Entrevista concedida por Ciléia Biaggioli à REDE BOM DIA

06/11/2011 02:06

‘O Palhaço é uma ampliação de você mesmo’

No Dia Nacional do Riso, Ciléia Biaggioli, que dá vida à palhaça Atadolfa Broshaska, comenta sua arteAGÊNCIA BOM DIA

No Dia Nacional do Riso, Ciléia Biaggioli, que dá vida à palhaça Atadolfa Broshaska, fala sobre a arte circense, crianças que têm medo de palhaço e a falta de apoio da mídia

BOM DIA - A função do palhaço é provocar o riso, mas o que te faz rir?
Ciléia Biaggioli - Essa nossa relação com o humor é interessante porque ela expõe as fragilidades do ser humano. O palhaço não é um personagem, ele é uma ampliação de você mesmo. O que é mais engraçado em você geralmente é o que você mais gosta de esconder. Essa exposição da fragilidade humana, quando é poética, sem forçação de barra, é o que me faz rir.

BD - Selton Melo está em cartaz no cinema com o longa “O Palhaço”. De que forma isso pode contribuir para divulgar o trabalho dos palhaços?
CB - Tudo que não denigre a imagem do palhaço é bom. Hoje em dia, chamar alguém de palhaço é uma ofensa. Uma vez fui tentar um crediário e o vendedor ficou na dúvida se aceitava ou não porque estava escrito na minha Carteira Profissional que eu era palhaça.

BD - Como lidar com crianças que sofrem de coulrofobia, ou seja, têm medo de palhaços?
CB - Tínhamos um espetáculo em que o palhaço se pintava na frente das crianças para mostrar que é uma pessoa que se pinta para brincar com ela. Funcionava muito bem e muitas crianças perderam o medo.
Mas tem muito adulto também que tem medo de palhaço. Na minha aula de circo, uma professora já se escondeu de mim porque ficou com medo ao me ver pintada.

BD - Os tradicionais circos de rua já não são vistos com tanta frequência nos bairros. Perderam muita força para os espetáculos mais luxuosos, como o Cirque du Soleil. Como resgatar a velha arte do picadeiro no Brasil?
CB - Quando falamos de arte no picadeiro, falamos de várias coisas, como o teatro de rua, que é a arte mais democrática que existe. O circo tinha muito disso, e era uma arena, com o palco mais baixo que o público. É um pensamento muito mais democrático do que um palco mais alto, com o público separado. É o teatro vivo, uma forma diferente de pensar a arte cênica.

O problema é que a mídia está muito monopolizada. Falta democratização da informação para levar outros tipos de arte.

BD - No Dia Nacional do Riso, o que você, um agente do riso, diria aos brasileiros?
CB - Uma frase do meu marido, que também é palhaço: “O riso lava o juízo”